quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Método Reggio Emília


A criança é feita de cem. /A criança tem cem mãos/ cem pensamentos/ cem modos de pensar/ de jogar e de falar./ Cem sempre cem/ modos de escutar/as maravilhas de amar. Cem alegrias/ para cantar e compreender./Cem mundos/ para descobrir./ Cem mundos/ para inventar./ Cem mundos/ para sonhar./ A criança tem/ cem linguagens/ (e depois cem cem cem)/ mas roubaram-lhe noventa e nove./ A escola e a cultura/ lhe separam a cabeça do corpo. 

(Trecho de As Cem Linguagens da Criança, de Loris Malaguzzi -idealizador da abordagem Reggio Emilia)





Descrição: O trecho do poema do pedagogo e educador Loris Malaguzzi, que reconhece as habilidades das crianças, resume a abordagem pedagógica presente na educação infantil de Reggio Emilia, cidade localizada ao norte da Itália, com cerca de 170 mil habitantes. Essa experiência educadora foi reconhecida como a melhor do mundo em 1991, mas a história teve início bem antes.
Com o término da Segunda Guerra Mundial, e a cidade em ruínas, um grupo de cidadãos sentiu a necessidade de reconstruir o tecido social, cultural e político da comunidade e materializou a vontade por meio de uma escola para crianças pequenas – a escola 25 Aprille (25 de abril, em português), em Villa Cella. Construída a partir de um esforço comunitário, do qual o próprio Malaguzzi fez parte, contou com verba obtida da venda de um tanque de guerra abandonado, alguns caminhões e cavalos deixados pelos alemães em retirada.
Impulsionado pelas teorias psicopedagógicas inovadoras da Europa nos anos 50 e 60, como Jean Piaget, Lev Vygotsky e John Dewey; e também de pedagogos italianos, como Maria Montessori, irmãs Agazzi, Bruno Ciari, o jovem Malaguzzi estava certo de que o processo pedagógico deveria ter como centro odesenvolvimento intelectual, emocional, social e moral das crianças.
O modelo pedagógico deu tão certo que acabou sendo municipalizado e hoje engloba 40% das escolas da cidade. A rede Reggio Children é composta de 13 creches e 21 pré-escolas.
As cem linguagens da criança
Créditos: Centro Malaguzzi / divulgação
Créditos: Centro Malaguzzi / divulgação
Partindo do pressuposto de que a criança nasce com as suas “cem linguagens”, a pedagogia da Reggio Emilia assume que os adultos têm como tarefa prioritária, a escuta e o reconhecimento das múltiplas potencialidades de cada criança, observada e atendida em sua individualidade.
Para tanto, as escolas criam espécie de “laboratórios do fazer”, que combinam as tradicionais linguagens gráficas, pictóricas e de manipulação (modelos e maquetes), mas também as do corpo, ligadas ao movimento, as da comunicação verbal e não-verbal, as linguagens icônicas, o pensamento lógico, científico, natural, discussões éticas, e manejo de ferramentas multimídia, sempre objetivando que a criança aprende “com todo corpo”, de forma fluída e permanentemente integrada.
Essa perspectiva faz com que as escolas não trabalhem apenas com as linguagens codificadas e reconhecidas, mas reconheçam as experiências reais obtidas por meio da pesquisa e de descobertas sensoriais dos próprios estudantes.
Foto: Reprodução
Foto: Reprodução
O trabalho é conduzido de maneira democrática, sendo a equipe pedagógica, alunos e familiares atores importantes para sua consolidação. Os professores atuam em parceria com o atelierista, profissional que apóia a consolidação de pontes entre as diversas descobertas da criança, empoderada pela ideia de experimentar, de descobrir o mundo e os outros a partir do manejo das diferentes linguagens às quais é apresentada.
A mesma condução é feita pelos educadores que atuam no sentido de expandir o método de conhecimento próprio da criança, incluindo as linguagens artísticas e expressivas na prática cotidiana. A equipe pedagógica parte do pressuposto de que a mente do ser humano e, portanto da criança, é multidisciplinar e observá-la em sua forma de aprender é uma forma de incentivar a apropriação de conhecimento.
Foto: Reprodução
Foto: Reprodução
Tal proximidade também é mantida com os familiares. Além de serem bem-vindos entre as dependências escolares, na entrada e saída dos alunos,  eles também participam de outras ações e iniciativas, como reuniões com professores e pedagogos, do conselho escolar, da consolidação das políticas escolares, e elaboração do percurso pedagógico, trilhado por eles mesmos, pela equipe pedagógica e pelas crianças.
Para realizar o projeto que recebe as características de cada comunidade, a formação inicial e continuada dos educadores se tornaram condições essenciais e indispensáveis​​. Com o apoio da Reggio Children, as escolas concebem um processo de seleção e treinamento, que tem continuidade na própria unidade, em trabalho gerido por um coordenador. Assim como com as crianças, esse coordenador adota uma metodologia formativa que visa estimular e alcançar os “maiores talentos” de cada professor, assim como apoiar as questões apresentadas pelas crianças e o diálogo com os pais.
Na mesma perspectiva, a conduta pautada na educação inclusiva e coesão social faz com que as escolas mantenham uma capacidade de integração com os imigrantes. As unidades da rede apoiam essas famílias no acesso à cultura e tradição local, a partir da história do território, e das famílias dos outros estudantes. A postura evidencia outro valor comum a essa experiência educativa: o acolhimento irrestrito das diferenças.
A metodologia de Reggio Emilia evidencia que a diferença da subjetividade reforça o valor de cada indivíduo e por isso zela por um modelo educativo que dê conta de todas as particularidades dos estudantes e das suas famílias.
Espaços relacionais
Foto: Reprodução
Foto: Reprodução










Em diálogo com a proposta, as escolas da rede são construídas de modo a favorecer o diálogo e o conhecimento compartilhado das crianças. Para tanto, os ambientes – que permitem que a escola acesse o exterior e vice e versa – estimulam a construção de diversas perspectivas e pontos de vista, consentindo às crianças uma pluralidade de experiências sensoriais. A estética e arquitetura das escolas são pensadas como elementos de qualidade do conhecimento, a partir de uma estrutura que permite a conexão das crianças entre si, com a equipe pedagógica e com a área externa.
Como exemplo, a cozinha, que é um espaço geralmente negado às crianças, é aberta e inteiramente conectada com a proposta pedagógica. Para a equipe gestora, a proximidade dos alunos ali reforça a importância da relação com a família, já que é no ambiente que se constroem importantes laços, como o “comer junto”, e a vida familiar cotidiana. A cozinheira também atua como educadora e permite aos alunos que participem do preparo dos alimentos – na tarefa, eles não só conhecem os alimentos, como são convidados a experiências sensoriais e de degustação, ao descascar, cortar e provar os diferentes ingredientes.
No caso das creches, dá-se ainda preferência por espaços com seções modulares flexíveis, criando a sensação de acolhimento. Outro elemento bastante presente é o espelho, não só nas paredes, mas também no chão, por se apresentar como algo intrigante para a faixa etária, já que a criança enxerga a si própria, aos amigos, e também as particularidades do ambiente, estimulando a visão por diferentes perspectivas.
Ainda na proposta de valorizar a experiência dos alunos, as salas que acolhem os projetos das crianças não são arrumadas para o dia seguinte. A ideia é que as crianças possam revisitar suas criações e mesmo dar continuidade às suas pesquisas, sendo este um fio condutor da aprendizagem.
Por dentro de Reggio Emilia
Para exemplificar o modelo pedagógico, a equipe da Univesp TV viajou até Reggio Emilia e conheceu duas unidades da rede: o Centro Internacional Loris Malaguzzi e a Creche Gianni Rodari. Os detalhes da rotina de professores, alunos e pais você pode conferir na reportagem a seguir:

Início e duração: de 1963 até os dias atuais.
Local: Reggio Emilia, cidade localizada ao norte da Itália.
Responsáveis: Prefeitura de Reggio Emilia.
Envolvidos e parceiros: Fundação Reggio Children e Centro Internacional Loris Malaguzzi.
Principais resultados
O trabalho coletivo é uma das bases da experiência de Reggio Emilia. A metodologia valoriza cada pessoa em sua experiência. Isso mostra que independente do papel que cumpre, ou função que desempenha, cada pessoa é importante na condução doensino aprendizagem e, portanto, protagonista legítimo da experiência adquirida. Outra questão é a naturalidade com que é vista a interdisciplinaridade em meio à metodologia, o que evidencia o trabalho em prol do desenvolvimento de váriashabilidades e competências.
Foto: Reprodução
Foto: Reprodução
A prática de inserir as crianças cotidianamente em situações de pesquisa e debate favorece o questionamento sobre si próprias e sobre os outros, o que as torna maisparticipativas e, futuramente, cidadãos mais críticos e cientes da importância de seu papel em uma sociedade mais justa e igualitária. Os alunos são convidados a compor seu ponto de vista em conjunto com os demais, fortalecendo o processo de construção não apenas de suas identidades individuais, mas do coletivo com suas múltiplas particularidades.
Em todo o processo de ensino e aprendizagem, as crianças têm suas habilidades reconhecidas e seu desenvolvimento conduzido a partir de suas próprias relações com os demais e com o mundo. Para tanto, as equipes gestoras garantem que as escolas sejam capazes de prover relações significativas e importantes para o desenvolvimento integral dos alunos.
A troca de experiências entre os alunos que, a cada término de atividades são convidados a participar de uma assembleia, também reforça que independente da experiência adquirida, o conhecimento é um patrimônio de todos.
Contato
Telefone: (39) 0522 513752
E-mail: info@reggiochildren.it

Fonte: http://educacaointegral.org.br/experiencias-internacionais/reggio-emilia-escolas-feitas-por-professores-alunos-familiares/

Método Montessori

Método Montessori é o nome que se dá ao conjunto de teorias, práticas e materiais didáticos criado ou idealizado inicialmente por Maria Montessori. De acordo com sua criadora, o ponto mais importante do método é, não tanto seu material ou sua prática, mas a possibilidade criada pela utilização dele de se libertar a verdadeira natureza do indivíduo, para que esta possa ser observada, compreendida, e para que a educação se desenvolva com base na evolução da criança, e não o contrário.
Montessori escreveu que o desenvolvimento se dá em “planos de desenvolvimento”, de forma que em cada época da vida predominam certas características e necessidades específicas. Sem deixar de considerar o que há de individual em cada criança, Montessori pode traçar perfis gerais de comportamento e de possibilidades de aprendizado para cada faixa etária, com base em anos de observação.
A compreensão mais completa do desenvolvimento permite a utilização dos recursos mais adequados a cada fase e, claro, a cada criança individualmente.
Dando suporte a todo o resto, os seis pilares educacionais de Montessori são:
  1. Autoeducação
  2. Educação como ciência
  3. Educação Cósmica
  4. Ambiente Preparado
  5. Adulto Preparado
  6. Criança Equilibrada
Autoeducação é a capacidade inata da criança para aprender. Por desejar absorver todo o mundo à sua volta e compreendê-lo, a criança o explora, investiga e pesquisa. O método Montessori proporciona o ambiente adequado e os materiais mais interessantes para que a criança possa se desenvolver por seus próprios esforços, no seu ritmo e seguindo seus interesses.
Educação Cósmica é a melhor forma de auxiliar a criança a compreender o mundo. De acordo com este princípio, o educador deve levar o conhecimento à criança de forma organizada – cosmos significa ordem, em oposição a caos -, estimulando sua imaginação e evidenciando que tudo no universo tem sua tarefa e que o ser humano deve ser consciente de seu papel na manutenção e melhora do mundo.
Educação como Ciência é a maneira de compreender a criança e o fenômeno educativo de acordo com Montessori, e defendida pela ciência de hoje. Em Montessori, o professor utiliza o método científico de observações, hipóteses e teorias para entender a melhor forma de ensinar cada criança e para verificar a eficácia de seu trabalho no dia a dia.
Ambiente Preparado é o local onde a criança desenvolve sua autonomia e compreende sua liberdade em escolas e lares montessorianos. O ambiente preparado é construído para a criança, atendendo às suas necessidades biológicas e psicológicas. Em ambientes preparados encontram-se mobília de tamanho adequado e materiais de desenvolvimento para a livre utilização da criança.
Adulto Preparado é o nome que damos, em Montessori, para o profissional que auxilia a criança em seu desenvolvimento completo. Esse adulto deve conhecer cientificamente as fases do desenvolvimento infantil e, por meio da observação e do domínio de ferramentas educativas de eficiência comprovada, guiar a criança em seu desabrochar, de forma que este se dê nas melhores condições possíveis.
Criança Equilibrada é qualquer criança em seu desenvolvimento natural. Por meio da. utilização correta do ambiente e da ajuda do adulto preparado, as crianças expressam características que lhes são inatas. Entre outras, encontram-se o amor pelo silêncio, pelo trabalho e pela ordem. Todas as crianças nascem com estas características e as desenvolvem melhor entre zero e seis anos.
Todos os princípios do método Montessori devem funcionar em união, para que a criança se desenvolva de forma completa e equilibrada. É necessário compreender a criança para identificar nela os sinais da eficiência daquilo que lhe está sendo oferecido. De acordo com Montessori, “uma das provas da correção do processo educacional é a felicidade da criança”.
O método Montessori tem sido utilizado em escolas por todo o mundo, desde o berçário até o Ensino Médio. Além disso, aplica-se Montessori em escolas especiais, clínicas de psicopedagogia e lares mundo afora. Clínicas de repouso aproveitam características do método montessoriano para o tratamento de demência e Alzheimer e iniciativas empresariais aplicam princípios do método para o melhor desenvolvimento de seus negócios.
Algumas das maiores personalidades do mundo moderno foram educacadas em Montessori. Entre eles, estão os fundadores da Google, e Andrew McAfee, colunista da Harvard Business Review.

Sergey Brin (co-fundador do Google):

“Cheguei no país com seis anos e imediatamente fui para uma escola Montessori. […] Eu realmente acho que me beneficiei da educação Montessori, que de algumas maneiras dá aos alunos muito mais liberdade para fazer as coisas do seu jeito, e para descobrir. Interessante que meu parceiro Larry Page também tenha ido a um jardim de infância e pré-escola Montessori; é algo que temos em comum. Eu acho mesmo que algum crédito da vontade de ir atrás de seus interesses… você pode ligar isso àquela educação Montessori”.

Andrew McAfee (Colunista da Harvard Business Review e pesquisador do MIT):

“Estou muito contente de saber que o método Montessori está começando a ser utilizado em escolas públicas [nos Estados Unidos]. E estou ansioso por mais pesquisas sobre as vantagens e desvantagens desta abordagem educacional. Até que me convençam do contrário, continuarei a acreditar em Montessori e a recomendá-lo para os pais”.
Você encontra abaixo vídeos com trechos do texto acima e com explicações sobre o método Montessori. O compartilhamento é livre e desejável, mas agradecemos por você não editar os vídeos de nenhuma maneira.






Fonte: http://larmontessori.com/o-metodo/

Filme "Mil Dias" retrata a importância desse período na vida da criança



Trailer do documentário de longa-metragem "1000 Dias" produzido pela Maria Farinha Filmes, Fundação Maria Cecília Souto Vidigal, Instituto Alana e Fundação Bernard van Leer. O Lançamento está previsto para março de 2016.





A produção gira em torno da primeira infância, com foco nos primeiros mil e poucos dias (daí o título), que vão desde os nove meses de gestação até os 3 anos de idade. "A mãe é o primeiro exemplo de humanidade que a criança tem contato", diz no trailer o psiquiatra e escritor tcheco Stanislav Grof. O longa, que terá cerca de 1h30 de duração, também trará depoimentos de mães, pais, médicos e especialistas como a neurocientista Patricia Kuhl, da Universidade de Washington, o prêmio Nobel de Economia no ano 2000, James Heckman, e a assessora para a primeira infância do Unicef, Pia Rebello Britto.


O vídeo em homenagem às mães, que reúne trechos de um dos capítulos do documentário, é falado em várias línguas: português, inglês, espanhol, francês e italiano. Segundo Estela – que ainda assina o roteiro de "1000 Dias" e já dirigiu o documentário "Muito Além do Peso" (2012), sobre a obesidade infantil –, a equipe gravou cenas em países como Brasil, Argentina, Canadá, Itália, China, Índia e Quênia. "Queremos mostrar a universalidade da nossa formação, que vai além do lugar ou da religião. As crianças se moldam através das relações, numa combinação de genética, ambiente, com pais, babás, professores, vizinhos", enumera a diretora de 41 anos, que é mãe de três filhos (Marcos, 13, Lucas, 11, e Sienna, 8).
Mari Pedrosa Mitre
Cena do documentário "1000 Dias"
"Ser mãe mudou completamente a minha vida. No primeiro filho, que nasceu menos de um ano depois do casamento, eu estava morando nos Estados Unidos, não tinha babá, ajuda nenhuma, estava longe da família. Foi muito trabalhoso, mas também incrível. Sempre quis muito ser mãe e ter uma família grande", conta Estela.
"Acho que a maternidade é um papel grande, nobre. Conflitos fazem parte da vida, mas meus filhos sabem que são amados, respeitados, precisam de limites. E sempre terão para onde voltar, mesmo que se aventurem, tenham os próprios conflitos e frustrações", completa a diretora, que matriculou seus dois primeiros bebês, aos 6 meses de idade, numa creche dentro do campus da universidade onde fazia mestrado.
"Algumas mulheres têm dúvidas [sobre ser mãe], querem fazer carreira antes. Mas, na minha opinião, você não precisa esperar até ter uma carreira incrível. Claro que cada pessoa tem a sua verdade, mas para mim não ia funcionar escolher, o momento era aquele mesmo", diz. "Não sou dona da verdade, fui mãe do jeito que consegui", pondera Estela.
Além disso, a cineasta aponta que o capítulo sobre as mães deixa claro que esta é normalmente a fase mais prazerosa, mas também a mais difícil, da vida de muitas mulheres, e que elas não nascem sabendo ser mães, amamentar ou identificar quando uma criança está com cólica. "Não é um mar de rosas, é um aprendizado, um processo de amadurecimento. Com o tempo, a convivência, a mulher adquire esse saber", avalia. "1000 Dias" ainda revela as dificuldades que as mães enfrentam para conciliar essa função com outras atribuições, e a falta de valorização que muitas delas sofrem.
Mari Pedrosa Mitre
Filme mostra a fase mais difícil e prazerosa da vida de muitas mulheres
Sobre os vários tipos de mãe existentes – adolescentes, idosas, solteiras, homossexuais –, Estela afirma que esse é um tema atual, mas acredita que no futuro ele soe "datado". "Ainda existe tanta gente com preconceito, mas espero que isso nem seja mais pauta daqui a alguns anos, e que as pessoas perguntem: 'Qual é o problema nisso?'. O que importa é a criança ser amada, querida, ter um ambiente seguro", ressalta.
"O que queremos mostrar com o filme, afinal, é que as crianças, desde a primeira infância, já são pessoas que merecem ser respeitadas, ouvidas, enxergadas, independentemente de conseguirem se expressar com palavras. Elas precisam de atenção, colo, estímulos, segurança e amor", enumera a cineasta. "Esse é um período muito importante, que de fato forma o ser humano. Os 3 primeiros anos são fundamentais, é como uma casa: se você não construir direito, não pode destruir tudo e recomeçar do zero. Não se pode implodir uma pessoa", compara.
Fonte:http://cinema.uol.com.br/noticias/redacao/2015/05/07/documentario-brasileiro-sobre-1-infancia-faz-trailer-em-homenagem-as-maes.htm

A TEORIA DOS SETÊNIOS – “OS CICLOS DA VIDA”

José Roberto Marques

A teoria dos setênios nos ajuda a compreender a condição cíclica da vida, em que a cada ciclo soma-se os conhecimentos adquiridos no anterior e busca-se um novo desafio:
0 a 7 anos – O ninho: Interação entre o individual e o hereditário
7 a 14 anos – Sentido de si, autoridade do outro
14 a 21 anos – puberdade/adolescência: crise de identidade
21 a 28 anos – O “Eu”: a independência e a crise do talento
28 a 35 anos – fase organizacional e crises existenciais
35 a 42 anos – crise de autenticidade
42 a 49 anos – altruísmo x querer manter a fase expansiva
49 a 56 anos – ouvir o mundo
56 a 63 anos – (e adiante) abnegação/sabedoria
linha
A Antroposofia é uma linha de pensamento criada pelo filósofo Rudolf Steiner que entende estabelece uma espécie de “pedagogia do viver”, pois ela abrange vários setores da vida humana como a saúde, a educação, a agronomia e outros. A Antroposofia compreende que o ser humano tem que conhecer a si para também conhecer o Universo, pois somos todos parte e participantes desse mundo. Conforme Steiner a Antroposofia é “um caminho de conhecimento que deseja levar o espiritual da entidade humana para o espiritual do universo”.
Dentro desse pensamento filosófico encontra-se uma forma cíclica de ver a vida chamada “teoria dos setênios”. Tal teoria foi elaborada a partir da observação dos ritmos da natureza, da natureza no sentido da vida, na qual todos nós estamos imersos. Ela divide a vida em fases de sete anos, vale lembrar que o número sete é um número místico dotado de muito poder em quase todas as culturas conhecidas.
A teoria dos setênios nos ajuda a compreender a condição cíclica da vida, em que a cada ciclo soma-se os conhecimentos adquiridos no anterior e busca-se um novo desafio. Claro que a teoria dos setênios pode também ser entendida como uma metáfora sistêmica, sabemos que as pessoas mudaram de um século para o outro, nosso desenvolvimento está mais acelerado, nosso organismo mais adaptado, talvez nem todas as descrições dos setênios façam tanto sentido hoje, mas ela continua atual em sua percepção do ser humano e suas fases. Assim, os setênios não são exatamente sete anos no tempo cronológico, mas a cada ciclo de X anos, de tempos em tempos.
Há também uma subdivisão possível desses ciclos. Os três primeiros ciclos, que compreendem nossa fase de 0 a 21 anos, são denominados “setênios do corpo”. É o ciclo do amadurecimento físico, do corpo, e também da formação da nossa personalidade. Os três ciclos seguintes que vão de 21 a 42 anos, são conhecidos como setênios da alma. É a fase em que, superadas as experiências básicas da vida, nos inserimos na sociedade fazendo as escolhas como casar ou não, trabalhar em uma área específica, conviver mais ou menos com a família. E, apenas a partir dos 42 anos, vivenciando os últimos setênios, estamos realmente prontos para imergirmos na vida com maturidade, profundidade e espiritualidade.
Vamos então conhecer essa teoria extraordinária e refletir sobre como nossa vida é cíclica e sobre como isso reflete na forma como mudamos e nos refazemos sistemicamente.
0 a 7 anos – O ninho: Interação entre o individual (adormecido) e o hereditário
A primeira infância é uma fase de individuação, de construção do nosso corpo, já separado do da nossa mãe, da nossa mente e da nossa personalidade. Nesse ciclo nossos órgãos físicos estão sendo formados para que sejamos indivíduos únicos. O crescimento está ligado à nossa cabeça, ao ponto mais alto, o superior, o pensar.
A separação da mãe é um momento importante para a psique e para o corpo. Outros estudiosos já trataram disso, como Winicot. É uma transmutação importante, em que a consciência da criança se constitui fisicamente e mentalmente tomando conhecimento sobre si mesma. A pedagogia Waldorf, usada nas escolas que tem como filosofia a Antroposofia, entende que na primeira infância a criança tem que perceber os aspectos positivos do mundo, para quererem estar aqui e cultivarem a felicidade em longo prazo.
O primeiro setênio deve oportunizar o movimento livre, a corrida, as brincadeiras, deve permitir que a criança teste e conheça seu corpo, seus limites e suas percepções de mundo. Por isso o espaço físico é muito importante, bem como o espaço do pensar e o do viver espiritual.
7 a 14 anos – Sentido de si, autoridade do outro
O segundo setênio promove um profundo despertar do sentimento próprio. A energia que emanava do polo superior, da cabeça, se dilui e se encontra no meio do corpo. Os órgãos desse setênio são o coração e os pulmões, esses se desenvolvem promovendo a interiorização e exteriorização da vivência.
É nesse ponto que a autoridade dos pais e professores assume um papel importante, pois eles são mediadores do mundo no qual a criança se insere. Se a autoridade é excessiva, a criança pode ter uma visão pesada e cruel do mundo, se a autoridade e cobrança são muito fluídas e sem ressonância, a criança pode ter uma visão demasiadamente libertária do mundo, não inibindo comportamentos perigosos. O papel do adulto, pais e professores, determinam a imagem de mundo que a criança receberá.
A autoridade é excessiva pode gerar uma maior inspiração do que expiração, desequilibrando o ritmo, e isso pode levar desde a uma timidez no futuro, à introversão, ou quadros somáticos de asma, etc. Quando a autoridade é insuficiente, a expiração maior pode conduzir à extroversão exagerada, que leva a criança a desconhecer seu limite e o do outro, até quadros mais histéricos, de dissolução da identidade.
Nesse ciclo as normas e os hábitos estão sendo absorvidos, o desenvolvimento sadio do ser humano está relacionado à dosagem, o equilíbrio e a harmonia das relações de autoridade, valores, limites e permissões. É o sentir que está sendo afetado, o desenvolvimento das emoções. Do interior para o exterior e vice-versa. As estórias infantis, contos de fadas, todo ato de brincar é extremamente saudável pois a criança cria e molda sua participação no mundo. Isso, para o desenvolvimento humano, é bastante mais saudável que situações em que ela se faz apenas como expectadora, como no caso da televisão, ou de jogos eletrônicos
A arte deve ser estimulada desde o primeiro ciclo, mas nesse momento ela se faz muito mais importante, bem como a religião. Os mundos artístico e religioso auxiliam no sentido de si e do mundo, fluindo a alma, que busca a beleza e a fé. E, sobretudo, fazendo um contraponto à dura descoberta das diferenças, pois é também nessa fase do conhecimento de si que percebemos como uns e outros são diferenciados na sociedade, como as diferenças sociais, religiosas, raciais ou mesmo geográficas.
14 a 21 anos – puberdade/adolescência – crise de identidade
O que todo adolescente busca? … liberdade!
Eles não querem os pais, irmãos mais velhos nem professores “pegando no pé”. O que rege esse ciclo é o sentido de liberdade. No sentido corporal, as forças que se acumulavam nos órgãos centrais se espalham e chegam aos membros e no sistema metabólico.
A postura ereta é uma diferenciação dessa fase para as outras. O corpo já está formado, já aconteceram as primeiras trocas com a sociedade, o corpo já não precisa de tanto espaço para se locomover, o espaço agora adquire outro sentido, o da possibilidade de “ser”. O espaço dessa criança é o mundo, já não pode se resumir a família nem a Escola. Ele precisa se reconhecer e ser reconhecido, aceito, achar a “sua turma” para compor um grupo no qual se identifique.
A liberdade nesse ciclo atua como a vivência do “bom” no primeiro ciclo e do “belo” no segundo ciclo. Ocorre que a liberdade só se dá num ambiente de tensão entre as possibilidades, impossibilidades e desejos. Essa tensão costuma gerar rompimentos, as vezes esses rompimentos são violentos, mas são necessários e próprios desse ciclo.
Essa liberdade também tem um sentido de exposição. Tudo está voltado para o externo, para fora, para o mundo. Há uma dificuldade em ouvir o outro e entender suas posições, tudo deve seguir o seu sentimento de mudança, de julgamento de certo e errado, de bom e ruim. É tanta energia interna para ser extravasada que o sujeito pode perder o controle de si mesmo e precisar de intervenção – salvo se os ciclos anteriores tiverem cumprido bem os seus papéis. As trocas nesse ciclo são importantíssimas. O diálogo, a abertura ao novo, a prática da compreensão, da solidariedade, assim como o seu reconhecimento e o pertencimento.
O binarismo entre o ideal e o real também estão muito presentes. O ideal de mundo, de Homem, de cultura, vindo de uma essência pura e etérea do ser humano entra em choque com o real das ruas, da política, o prazer sexual, as práticas ilícitas, tudo se torna um turbilhão. As representações que forem mais fortes para o sujeito – as de idealizações ou as do real, serão definitivas nos próximos ciclos.
Os questionamentos são fruto desses choques. É o momento de questionar a tudo e a todos. O caminho contrário do “habitual” pode ser exclusivamente para reforçar a tensão. As drogas podem estar nesse contexto. É importante que saibamos que é uma fase extremamente difícil, onde o adolescente precisa negar e se opor, para que, a partir da percepção do que não é, encontrar-se a si mesmo.
Também é o momento do discernimento, das escolhas profissionais, do vestibular, do primeiro emprego, pois a liberdade também só faz sentido quando percebemos a vida econômica. O dinheiro então pode ganhar um sentido de poder que talvez não seja saudável. É a partir desta idade que começamos a ter um pensamento mais autônomo, ainda que, nesta época, acreditemos estar amadurecidos para efetuar julgamentos.
21 a 28 anos – O “Eu” – a independência e a crise do talento
A partir dos 21 anos nossa individualidade, nosso self, toma uma força considerável na tentativa de estabilização. O “Eu” começa realmente a se mostrar, mesmo ainda estando em formação. No entanto, para que esse “Eu” apareça e se forme, mesmo sendo algo subjetivo e interno, ele depende do mundo exterior, da sociedade.
O fim do crescimento corporal instaura o início de um processo de crescimento mental e espiritual, somos então “cidadãos de dois mundos: o celeste e o terrestre”. Geralmente já não moramos mais com a família e já não estamos mais na escola. É o momento da autoeducação, do emprego, do desenvolvimento dos talentos, etc.
A história das pessoas começa a ser traçadas por elas mesmas, pois há uma tomada de caminho que não depende mais, diretamente, das outras instituições. É uma emancipação em todos os níveis, mas como resultado de toda a experiência nos três primeiros setênios. Surpreendentemente, é também a fase em que mais nos influenciamos pelos outros, pois a sociedade dirá o ritmo da vida de cada um.
Nesse ciclo, os valores, aprendizados, e lições de vida passam a fazer mais sentido. As energias estão mais pacificadas. Nosso lugar no mundo é o principal objetivo. A colocação profissional assume um papel muito importante. O não atingimento desse objetivo pode gerar muita ansiedade e frustração, especialmente se todos os anos até aqui não foram suficientes para descobrirmos e desenvolvermos os nossos talentos.
28 a 35 anos – fase organizacional e crises existenciais
Quem nunca ouviu falar na “crise dos 30”? ela não é um mero mito, ela existe e tem explicação. O 5º setênio começa com essas crises na vida, o abalo da nossa identidade, a cobrança do sucesso que talvez ainda não tenha atingido, a certeza de não podermos tudo, de onde vem a frustração e tristeza.
A sensações de angústia e vazio são muito comuns. Em algumas sociedades as pessoas nesse ciclo não encontram um lugar para si e se veem entre a juventude e a velhice ou maturidade. As pessoas passam a não se conhecerem, pois, seus gostos mudam – ou por si mesmos ou pela pressão dos outros. Sentimo-nos impotentes nesta passagem da juventude para a maturidade, de um viver mais impulsivo para um viver mais sério, responsável, voltados para a família e para o trabalho.
Nesse ciclo os sentimentos nos levam também a uma busca espiritual maior, um “caminho da alma”. Estamos suscetíveis ao cosmos, às oscilações e às vezes a harmonia custa a acontecer. Somos cobrados por estrutura, firmeza, estabilidade, uma base, um pilar, que seja material e que também sejam mental e espiritual. A Antroposofia acredita que logo após o 31 ½ ano, que corresponde à metade do 63º. ano de vida, estamos no final das atuações planetárias e zodiacais. Depois dessa idade, ficamos mais livres.
Estamos realmente, nessa fase, em organização. É nesse ciclo que passamos a pesar uma série de coisas, avaliar a trajetória da nossa vida, esse não lugar nos força a perguntar “quem sou eu”. Há uma renovação a partir desse ciclo. Estamos tendo crises, mas é por meio dessas crises que construímos novos pensamentos, novos valores, terminamos relacionamentos e começamos outros, mudamos de emprego, de ideologias, de partidos políticos, enfim… crises, desorganizações e reorganizações.
35 a 42 anos – crise de autenticidade
Esse setênio, embora tenha suas peculiaridades, está ainda ligado ao setênio anterior, ruminando os resultados das crises. Reconhecemos também uma espécie de crise nesse setênio, mas uma crise que busca uma autenticidade, gerada pelas reflexões do ciclo anterior.
Temos, aqui, mais capacidade de julgamento, gozamos de mais maturidade psíquica e emocional. Em geral, já acumulamos alguns bens materiais ou ao menos conseguimos uma renda que seja suficiente para as questões básicas de consumo. O desafio, então, é encontrar valores espirituais e nos reconhecermos como seres únicos. A pergunta é: como é que encontro o caminho para a essência do mundo e para a minha própria essência?
Esse setênio configura a última fase do desenvolvimento da alma propriamente dita, estamos propensos a adentrar mais profundamente no nosso mundo espiritual, na parte mais sensível de nós. Buscamos a essência de tudo, no outro e em nós. Isso passa a acontecer com mais força nesse setênio pois, aqui, já há maturidade e aprendizado suficiente para esse conhecimento.
A carreira, a família (ou não) os desejos, tudo já teve seu tempo. Já alcançamos as conquistas que nos eram urgentes. Há um desaceleramento do ritmo do nosso corpo e da nossa mente, o que é algo importante para alcançarmos frequências mais sutis de pensamento, onde estará nosso corpo suprassensível.
É possível que esse ciclo traga um descontentamento com o novo. Pode ser que o sujeito questione se, chegando aos 40 anos, ainda há algo novo para se fazer. Buscar coisas novas é um exercício importante para esse ciclo. Em contraponto ao novo, há uma aceitação maior do que se é, de como se é, das histórias e experiências de vida.
42 a 49 anos – altruísmo x querer manter a fase expansiva
É um ciclo que tem um “ar” de recomeço, de ressurreição, de alívio, até. A crise dos trinta perde a força e parece não ter tido resultados tão graves como se pensava. É, porém, o momento de buscar, desesperadamente, por algo novo, para que a vida adquira sentido.
As mudanças nesse setênio são urgentes. Mesmo que nem todos estejam preparados para elas. As questões existenciais retornam com uma certa força, mas agora elas mais dinâmicas e menos melancólicas pois o sujeito já se vê capaz de produzir essas mudanças. O lema é “como está, não da pra ficar”.
Essa dinâmica impulsiona a tomada de decisões que, por vezes, ficou anos sendo gestadas dentro de si. Pode ser a separação conjugal, a saída de uma empresa, ter um filho, etc. É uma fase que corresponde, em termos energéticos, à fase que vai dos 14 aos 21 anos. Ficamos saudosistas, queremos ir à Disney e reviver coisas da nossa adolescência. Voltamos a desafiar nosso corpo e fazer esporte. É uma fase solar.
O medo do envelhecimento surge. As questões internas despertadas pelos ciclos anteriores perdem um pouco de espaço para a estética e a necessidade de se fazer coisas que os jovens fazem. As rugas e a menopausa são os espinhos das mulheres nesse setênio. A sexualidade retoma uma importância crucial. Contudo, a força que se perde com o declínio da sexualidade pode e deve ser empregada em outros nichos.
Esse setênio traz o contraditório: queremos mudanças, estamos em busca do novo, mas o envelhecimento que é uma mudança natural nos assusta, incomoda, gera ansiedade, muda nosso comportamento com relação a nós mesmos e ao mundo. Assim, sucumbimos à força do “sósia”, ou seja, da sombra, daquilo que está diretamente ligado aos aspectos pessoais não resolvidos, não integrados.
Nos enxergamos nas sombras do outro e entramos em confronto. As relações ficam à mercê das emoções distorcidas pelo que não vemos em nós mas vemos nitidamente nas pessoas. No entanto, o que acontece é um espelhamento.
49 a 56 anos – ouvir o mundo
Podemos reconhecer essa fase como sendo do “pai e da mãe universal”. É a fase de desenvolvimento do espírito. É um setênio tranquilo e positivo. As forças energéticas voltam a estar concentradas na região central do corpo, mas estão voltadas ao sentimento da ética, da moral, do bem-estar, questões universais, humanísticas.
É um momento em que estamos mais conscientes do mundo e de nós mesmos. É um bom momento para reconhecer os méritos da nossa história, aceitando-a sem julgamentos. Esse ciclo desperta em nós o existencialismo para observarmos mais de perto o valor simbólico das coisas. Deixamos o pessoal, particular em busca do universal, do humanístico, do existencial.
Contudo, alguns podem incorrer na falha dos egocentrismos, pois um ciclo depende do seu anterior. Assim, pode haver pessoas nesse setênio completamente voltadas para si, suas necessidades e do seu grupo. O desapego é uma consequência da vida pregressa.
Em termos físicos, esta fase espelha fisiologicamente o setênio 7 a 14 anos, o elemento do ritmo tem de ser priorizado, especialmente na condução de uma rotina. A vida nos ensina nesta época uma nova audição, temos a possibilidade de ouvir a voz do coração para esta renovação ético / moral que agora é propícia.
56 a 63 anos – (e adiante) abnegação/sabedoria
A Antroposofia acredita que o 56º ano de vida traz uma brusca mudança. Ela está na forma como a pessoas se relaciona consigo e com o mundo. Como os ciclos se correspondem, esse se liga ao primeiro setênio, aquele que vai do nascimento até os sete anos de vida. A audição, a visão, o paladar das pessoas dessa fase se igualam e o mundo fica estranho.
É importante pensar que essa teoria foi pensada em uma época em que a expectativa de vida era muito baixa e as pessoas com 60 anos eram verdadeiros anciãos. Logo é preciso também compreender que os ciclos são metafóricos e não tem uma relação matemática exata.
Contudo, essa fase, por exemplo, evidencia uma volta para dentro de si. O interno passa a fazer muito mais sentido que o externo. É importante internalizar-se, desenvolver os sentidos espirituais. A comunicação com o mundo externo passa a ter ruídos, principalmente pelas mudanças que a sociedade sofreu nesse período inteiro.
A reclusão passa a ser algo natural, boa para a autorreflexão e a busca pela essência. A sabedoria pelo conhecimento acumulado e a intuição que passa a ser mais clara, tornam-se elementos fundamentais dessas pessoas. Elas são o contraponto do sentimento de fracasso e insucesso que, porventura, possa aparecer, vindo dos questionamentos daquilo que se alcançou ou deixou de alcançar.
Certos cuidados se fazem muito importante, como a estimulação da memória, mudanças de hábitos, recursos criativos. Isso porque a aposentadoria pode ser algo limitador, especialmente para aqueles que durante toda a vida atribuíram muita importância ao status profissional e agora temem não ter outra forma de autorrealização.
Atividades muito bem-vindas nesse setênio são as acadêmicas – lecionando ou fazendo novos cursos – escrever textos ou um livro, o laser em grupos de pessoas na mesma fase da vida, viagens e outras formas que relacionem prazer e aprendizado. A aproximação da família ou a construção de novas famílias também ajudam a dar novo sentido à vida.
Concluindo
Como você vê, nossa vida é feita de uma forma cíclica. Nossa energia vital circula pelas diversas fases da nossa vida. Nossa mente tem diferentes estágios de aprendizado e nossa espiritualidade pode estar mais ou menos aberta também conforme cada estágio.
Hoje talvez essa divisão seja um pouco diferente e, com certeza, faz sentido pensar em mais um ou dois ciclos de sete anos, visto que estamos vivendo cada dia mais, mas o aprendizado com a Antroposofia e a teoria dos setênios é enorme. Metaforicamente ou não, poucas linhas de pensamento conseguem dar pensar de forma sistêmica como essa. De forma que é impossível pensarmos em algo tão complexo quanto a nossa vida de forma linear e homogênea.
Compreender as fases ou ciclos da vida é importante para aprendermos mais sobre nós mesmos e sobre o outro, adquirindo mais expertise no cuidado com as pessoas, especialmente os coaches, que devem ser peritos no desenvolvimento e aprendizagem humana. Saber sobre cada etapa nos possibilita saber mais sobre as crises e lidar melhor com elas.
Há uma série de arquétipos que podem ser observados nessas diversas fases, mas isso é assunto para um novo artigo. Lembre-se sempre de se lembrar de nunca esquecer que o saber é o nosso bem maior, cada leitura, cada livro, cada conhecimento acumulado é uma forma de sermos melhores e mais capacitados, além de nos conhecermos mais a cada dia.

Fonte: http://www.antroposofy.com.br/forum/a-teoria-dos-setenios-os-ciclos-da-vida/